11 de fev. de 2010

Manifesto a favor dos bichanos

Desde pequenos, aprendemos que cachorro é bonzinho e gato, malvado. Que cachorro é companheiro, mas gato é traiçoeiro. Que cachorro ama o dono, enquanto o gato gosta mesmo é da casa. Que cachorro é brincalhão e os gatos são ariscos. Que ter cachorro é legal, mas que tal um gato? De jeito nenhum!

Nem os contos de fadas, os desenhos animados e a literatura colaboram para desmistificar essa imagem distorcida. Toda bruxa tem um gato, Tom sempre leva uma surra de Jerry e o gato preto de Edgar Allan Poe é mesmo de assustar. E assim vamos crescendo, passando de geração em geração o preconceito contra os felinos.

Uma baita injustiça que só fui entender ano passado, aos 24 anos, quando Agatha passou a fazer parte da minha vida. Sempre gostei de animais, mas tinha verdadeira paixão por cães. Porém, por morar em apartamento, fui privada da companhia de um quatro patas. Após muito insistir, o máximo que consegui dos meus pais foi um peixinho dourado (azulado, a bem da verdade). Mas o pobrezinho nunca pôde suprir a carência que uma menina – filha única – tinha por afagos e lambidas. Continuei sonhando com o dia em que, ao chegar em casa após um dia estressante de trabalho, seria recebida com muita festa por um bichinho de estimação.

Eis que um dia tive a felicidade de realizar o sonho da casa própria (ou melhor, apartamento próprio). O problema de espaço continuou e a vontade de ter um companheiro peludo se tornou insustentável. Mesmo sem saber como lidar com gatos, passei a considerar a possibilidade de adotar um. Pequeno, higiênico, independente, de fácil adaptação em lugares pequenos... Um felino parecia mesmo ser a melhor opção.

Deparei-me com uma ninhada para doação e, ao avistar Agatha, tão encolhidinha e frágil ao lado de seus irmãos, o amor foi à primeira vista. Ainda estou aprendendo a cuidar dela e ela, de mim. Com pouco mais de seis meses, minha gatinha é muito peralta e carinhosa. Pode não atender quando eu chamo, nem pular em mim quando eu chego, mas seu “ronroninho”, o roçar em minhas pernas e a sutileza de seu amor fazem com que eu agradeça o dia em que enfrentei olhares de desaprovação ao decidir trazê-la pra casa.

Confesso que adotei um gato para minimizar a frustração de não poder ter um cachorro. Mas ressalto que nenhum animal poderia ser tão parecido comigo e me fazer tão feliz quanto o meu bichano.

"No amor desinteressado de um animal, no sacrifício de si mesmo, alguma coisa há que vai direto ao coração de quem tão frequentemente pôde comprovar a amizade mesquinha e a frágil fidelidade do homem" (Edgar Allan Poe).

Foto: Arquivo pessoal

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