
Sempre fui fascinada por felinos. Ora pelo seu andar elegante, ora pelo olhar atento ou por aquela mania irritante de me desarmar com um simples miado. Embora as férias no interior rendessem fotos ao lado de cães, cabritos, porcos, galinhas e perus (sim, perus!!), as lágrimas da partida sempre eram pelos gatos que ficavam para trás.
Filha única, lembro-me do momento em que desisti de pedir um irmão e implorei por um bigode. Não fui atendida. Perto dos 4 anos, uma família de minúsculos gatinhos foi abandonada na porta da minha casa. Por motivos que somente depois de adulta pude entender, minha mãe me proibiu de ficar com um deles. Foi o dia mais triste da minha infância.
Há oito anos adotei a minha primeira menina (Capitu, a dos olhos de ressaca) e, seis anos depois, foi a vez da Mudinha (desengonçada, destruidora e porcalhuda) fazer parte da minha vida. Admito que ter duas gatas de personalidades completamente opostas é um desafio que algumas vezes me leva à loucura. Contudo, não há nada que pague a felicidade de abrir a porta de casa ao fim do dia e tropeçar em uma bola de pelo que ronrona.
Todos os aborrecimentos inerentes à convivência com dois seres vivos e pensantes são pequenos perto do amor que sinto por elas. Meu peito dói ao imaginar como vai ser quando nós não pudermos mais dividir este plano espiritual. Arrisco dizer que seria capaz de dar a elas alguns anos da minha vida para que pudéssemos passar mais tempo juntas. Porque não fui eu quem as resgatou, foram elas que me salvaram.
*Frase atribuída a Leonardo da Vinci
Foto: Arquivo pessoal