No começo do ano passado eu estava chegando na casa da minha avó quando fui abordada por uma cachorrinha vira-lata. Ela estava toda suja e maltratada, mas ficou extremamente feliz quando a fiz alguns afagos. Na hora, a única coisa que pensei foi sobre o que daria para ela comer e tratei de lhe dar um momento de breve alegria. Muito simpática, ela (até então sem nome) me respondeu com um sincero sorriso (um trejeito engraçado de mostrar os dentinhos). Fiquei encantada com aquele ser, mas apesar se saber que ela poderia estar sofrendo nas ruas não podia fazer nada.
Foram muitas encontros, petiscos e sorrisos depois disso. Toda vez que ia até lá a procurava e meu coração ficava em frangalhos quando ia embora e não podia levá-la comigo. Aquela cadelinha era tão carismática que acabou conquistando alguns vizinhos. No entanto, acabou vítima da ira de algumas pessoas que se divertiam com o sofrimento alheio e era violentamente agredida para que seguisse outro caminho.
Depois de um desses episódios de violência fiquei sabendo que ela tinha dono e que, na verdade, ele não a queria mais. A pobre chegou a ter uma ninhada, com seis cachorrinhos, mas todos morreram de fome, pois ela não se alimentava e, consequentemente, não tinha leite o suficiente. Mais uma vez a história dela me comoveu, mas eu morava em um apartamento e já tinha uma cachorrinha, a Isabella. Não podia resgatá-la.
Mas tudo tem um limite e chegou o momento em que eu não consegui mais suportar aquela situação. Minha irmã foi até a casa da minha avó e voltou com uma notícia terrível: a cadelinha tinha apanhado novamente, estava com o pescoço inchado – resultado de uma paulada -, e tinha hematomas pelo corpo. Fiquei transtornada e passei dois dias sem saber o que fazer.
No terceiro dia acordei cedo e quando percebi já estava na rua em que ela vivia. Quando a encontrei fiquei mais triste ainda, pois a situação em que ela se encontrava era realmente de dar dó. A coloquei no carro e fui até um veterinário. Felizmente, os ferimentos eram superficiais e alguns dias tomando antibióticos foram suficientes para salvá-la. Até aí tudo bem, mas em seguida percebi que a partir do momento em que a peguei na rua não podia mais deixá-la. Acabei assumindo a responsabilidade e teria que me virar.
Desesperada, liguei para minha sogra – que também é uma amante da causa animal – e ela me acalmou dizendo que daríamos um jeito. Então, conseguimos um cantinho “provisório” para a cadelinha. A intenção era cuidar dela e depois doá-la, mas uma grande surpresa ainda estava por vir.
Depois de alguns dias de cuidados ela já apresentava melhora e sorria mais do que nunca. Foi aí que seu nome surgiu e ela acabou sendo batizada como Sorriso (tentamos mudar depois, mas não teve mais jeito). Passei a ir visitá-la sempre que possível e fui me apegando cada vez mais. Um belo dia minha sogra levantou a suspeita de que a ela estava grávida e eu pedi muito a Deus para que aquilo não fosse verdade. Afinal, não tinha nem mesmo como cuidar dela, imagine dos filhotes. Mas em pouco tempo a previsão se tornou realidade e três lindos bebês nasceram.
A maratona em busca de pessoas que quisessem adotá-los foi iniciada e, em pouco tempo, conseguimos que todos tivessem um lar – com exceção da mãe. Minha sogra até já estava pensando em ficar com ela, mas a essa altura meu coração já havia sido consumido por aqueles sorrisos.
Sabia que iria enfrentar alguns problemas, pois meu marido não podia nem pensar em ter outro cão, mas eu tinha que ficar com ela. Além disso, a Isabella era tão ciumenta e possessiva que eu mesma pensei que colocar as duas juntas resultaria em uma verdadeira luta de boxe. No entanto, só tive paz no dia em que a levei para casa.
No fim deu tudo certo e hoje a dupla Isabella e Sorriso é inseparável. Acho que o instinto materno da Soso (apelido para os íntimos) acabou amolecendo a Isa e as duas se dão super bem. Sei que parece loucura, mas a minha vida passou a ter mais sentido depois que resgatei aquela cadelinha suja e maltratada. Acho que ela estava no meu destino desde sempre, eu apenas demorei a enxergar.
Fotos: Arquivo pessoal